
Não há muito a fazer por cá. Esperamos até amanhã, quando o sol mostrar os primeiros raios para fugirmos daqui. Não para sempre. Só até estarmos satisfeitos. Depois voltámos, e dormimos. Esperamos de novo. Até que o sol torne a brilhar.
São poucos, coitados, aqueles que se aventuram de noite pelas ruas. Não sabemos o que fazem estas criaturas nem quem são. Os seus vestígios estão espalhados por aí. Conseguimos vê-los antes de fugir. Pequenos papéis espalhados pelo chão, copos de plástico vazios a encherem os pequenos caixotes de lixo verdes e beatas de cigarros espalhadas pelas bermas dos passeios. Quando regressamos está tudo limpo e estamos tão cansados de fugir, que nos esquecemos que à noite também à vida por aqui.
No outro dia tivemos a ilusão de ouvirmos esses morcegos. Um barulho suave de risos e suspiros vinham da janela. Lembrámo-nos então dos vestígios que víamos todas as manhãs. Tivemos medo de ir espreitar e estávamos tão acomodadas nas nossas camas que acabamos por adormecer.
No fim-de-semana saíamos daqui, e regressámos a tempo de fugir. No fim-de-semana não fugimos, vamos apenas para onde temos que fazer.
Os barulhos nas noites intensificam-se. São cada vez mais regulares. Algo se passa e nós não temos a coragem para descobrir donde vêm estes barulhos; de descobrir quem os faz; nem de descobrir porque os fazem. Temos medo. De amanhã não estarmos prontos para fugir.
Tomámos uma decisão. Este fim-de-semana ficámos cá. Se tivermos coragem, saíamos à noite, e descobriremos esses sons, donde vêm. Se é que os há nestes dias…
O fim-de-semana passou, e há vida no Dormitório…
texto: Mário Gomes
Ilustração: Miguel Furtado
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