terça-feira, 27 de março de 2007

Espaço dos Marretas

Blogue dos Marretas

“Um supositório é um dormitório onde se fazem suposições”

Estouaki Estoutapoulos, filólogo cipriota e maneta

Dormitório

Se nos pedissem para fazer um jogo de associações (daqueles típicos da Psicologia) com a palavra dormitório, nós mandávamos o rapaz dedicar-se à apanha da azeitona descascada. Se fosse uma psicóloga, pedíamos com jeito para fazer o mesmo. Só que neste caso púnhamo-nos debaixo da escada a olhar para cima pelo buraco da mini-saia.

Mas se fosse, por absurdo, uma obrigação legal fazer esse teste, também não o faríamos, da mesma maneira que não pagamos o IRS nem vemos a RTP. A única lei que respeitamos é a que obriga todos os cidadãos do sexo masculino com mais de dezoito anos a servir o seu país, vendo no You Tube, tantas vezes quanto possível, o vídeo com a Merche Romero toda nua.

No entanto, ninguém nos pediu para fazer essa parvoíce de associar a palavra dormitório seja ao que for. Só por isso lembrámo-nos logo – embora uns Animais mais logo do que os outros – de dormitórios femininos em colégios internos e residências universitárias, ideia imediatamente aplaudida pelo resto dos autores, excepto um, que nesse momento se encontrava deitado no chão, a rebolar os olhos e a murmurar palavras incompreensíveis ou o Corão em Finlandês. Esse conceito de dormitório é bem mais agradável que as franjas urbanas onde as pessoas passam as horas sem sol. Por exemplo, se Massamá fosse uma cidade dormitório constituída por estudantes de pompons no cabelo em vez de crews com rastas na cabeça, talvez fosse uma zona onde nós já tivéssemos adquirido vários imóveis para uso pessoal.

Os preconceitos tendem a considerar as cidades dormitório como espaços deprimentes. Nós consideramo-los lugares com muita potencialidade. Por exemplo, são sítios com enormes oportunidades para o treino de rotweillers. Um miúdo suburbano, filho de uma operária e de um maquinista desempregado, repetente no 7º ano, sem nenhum futuro sorridente à espera, pode muito bem servir para praticar as capacidades de luta de um ou outro cãozinho simpático. Dessa forma, se não ficasse seriamente incapacitado para trabalhar na estiva, aprendia a fugir e/ou a lutar, habilidades bastante úteis para os encontros semanais com a polícia de choque que o futuro lhe reserva. É de forma consciente que alertamos para a importância de não olharmos para estes bairros de forma preconceituosa, só porque neles habitam os idiotas que compram o 24 Horas e vêem as novelas da TVI.

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