terça-feira, 27 de março de 2007

EDITORIAL

“This town is a big pussy waiting to be fucked”*


Sejamos realistas. A geração que hoje vive em liberdade, que nasceu em liberdade e que, ao que tudo indica, viverá todos os seus dias em liberdade, é uma merda. Não sei ao certo se preciso de explicar o que aqui defendo. Esta convicção é mais uma questão de fé do que de racionalidade. O que é certo é que, e não querendo de forma alguma pôr-me acima dos demais que comigo partilham esta época, pois afinal, tenho consciência do meu próprio fedor, sinto-me privilegiado por reparar nisso. Aliás, defendo a recorrência ao empalamento para combater o excesso de merda que por aí anda. Tenho também a dizer acerca disto tudo que as minhas opiniões e ideias nunca foram muito populares…

Como disse, e dirijo-me especificamente às pessoas da minha faixa etária (dos 20 aos 30 anos), nascemos em liberdade, ou pelo menos, temos essa ilusão. O que é que fizemos com ela? Compramos uma Playstation e achamos isso divertido. Ouvimos música insípida e banal e achamos divertido, ao ponto de abanarmos as ancas. Vimos uns filmes do Michael Moore e achamo-nos revoltados e conscientes. Tirámos, ou estamos a tirar, cursos universitários e achamo-nos úteis. Vamos trabalhar para trás de balcões em lojas de roupa da moda e acabámos frustrados. É este o triste destino dos filhos da revolução. E nós que íamos ser todos artistas…

Infelizmente o tempo das revoluções colectivas acabou. Nenhum motivo parece suficientemente válido para juntar pessoas e gritar e lutar contra alguma coisa. Isto porque já temos tudo. Estas manifestações públicas que se vão fazendo hoje em dia, parecem-nos sempre (pelo menos a mim) exercícios puramente vazios. Manifestar por manifestar. Lutar por lutar. Não lutar por alguma coisa mas sim lutar simplesmente porque nos pareceu que o devíamos fazer. Acabaram-se as ideologias. Acabaram-se as convicções. Existe esse tudo que é nada: o centro, mais à direita ou mais à esquerda, não interessa.

Eu acredito, mais uma vez por uma questão de fé, que a próxima grande revolução será uma revolução individual. Ela já está a acontecer. Não sei se está no caminho certo mas ela está a acontecer… Os “jovens” de hoje fecham-se em casa a “teclar” com o computador… vivem “alienados” do resto do mundo. Cada vez mais “solitários”. Pode ser que algum dia, no meio da “solidão”, comecem a pensar… tomem consciência “de si próprios”. Que podem fazer “coisas”…

Bem vindos ao Dormitório! O tema da próxima edição é tema livre e sairá em Maio, depois do 25 de Abril, depois do dia do trabalhador… Podem começar a fazer “coisas”… a “pensar” em “coisas”… nós mostrámos aos outros o que quiserem… a cidade está à espera.

* Frase retirada do filme “Scarface”, de Brian de Palma.


Mário Gomes

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